Individuação: o que sou “Eu”?

Individuação: o que sou “Eu”?

Individuação: o que sou “Eu”?

A individuação não é sinônimo de perfeição, tampouco de egoísmo. É sim, um processo de completude do indivíduo, onde o mesmo atinge uma ampla integração do ser, de tal forma, que é despertada uma mudança profunda na maneira de perceber, sentir e agir às situações da vida, de seus significados e valores.

O caminho que a Psicologia Analítica sugere para o desenvolvimento de uma terapia, talvez mais adequada, seria aquela que tem como meta a individuação que, nas palavras do criador deste termo, Carl Gustav Jung, significa: “tornar-se um ser único, na medida em que por individualidade, entendermos nossa singularidade mais intima, última e incomparável.” O caminho da individuação abre a possibilidade para que nós possamos nos tornar quem realmente somos.

Enquanto o individualismo se concentra naquilo que parece ser egocêntrico, peculiar ao indivíduo, voltado ao bel-prazer (em detrimento do outro), a individuação visa, principalmente, o aperfeiçoamento de realizações do Ser, encontradas nas peculiaridades individuais e singulares de cada pessoa.

A individuação está relacionada a uma melhor interação entre o indivíduo, relacionamentos interpessoais e a sociedade. Somente a partir do autoconhecimento e da autorreflexão, o homem tem a possibilidade de melhorar a compreensão sobre si e desenvolver habilidades para lidar com as questões profundas da existência.

O início histórico do processo da individuação vem do pensamento Socrático, na antiga Grécia:

“Conhece-te a ti mesmo e conhecerás o Universo”

Relacionamentos – o Eu e o outro

Individuação: o que sou “Eu”?O processo de individuação da realização humana nos remete à arte dos relacionamentos, através do encontro com o “Eu Essencial” e com o outro, não pelo poder e controle, mas pelo compartilhar e desfrutar.

Perguntem a si próprios: “como lidamos com as emoções, sensações e sentimentos no universo das relações?”. Este é o parâmetro fundamental para sabermos como está acontecendo o processo da solidão-solitude em nossas vidas e, a partir disso, o desenvolvimento contínuo da individuação.

Veja o artigo “Solidão ou Solitude?”.

 

 

 

“Acho que o amor é muito parecido com o espelho. Quando amo alguém, essa pessoa torna-se meu espelho e eu me torno o dele; e refletindo-se um no amor do outro, vemos o infinito.”

Leo Buscaglia

Provavelmente, o maior propósito no processo de individuação seja o encontro real, espontâneo e verdadeiro consigo próprio, através do(a) outro(a). Porém, como somos seres em transformações contínuas, as relações interpessoais vão mudando constantemente no fluir do viver.

Por exemplo, nos processos transformadores da adolescência, é muito comum o jovem se apaixonar e se encantar pelo(a) outro(a) e se dividir completamente. Esta divisão, muitas vezes, gera um autoabandono e uma projeção enorme em relação ao outro(a.)

As relações de estreita dependência, apego e ilusão, podem se perpetuar também em todas as outras fases da vida, e a conexão com o verdadeiro “Eu” se perde. Desta forma, o caminho para a individuação se afasta!

Leia também “Desapego do Apego”.

Significado da palavra individuação:

In – dividu – ação (ação não dividida)

Indivisibilidade – unidade – um

“Ação para o Eu”

A individuação é um processo constante e infinito de integração da personalidade à essência e que tem como finalidade o equilíbrio entre os conteúdos conscientes e inconscientes, a autorrealização e a busca de sentido na vida. Enfim, ela tem como meta a descoberta do “Eu Essencial”.

Para este profundo despertar, temos uma premissa fundamental:

“Nós precisamos encarar as verdades,

porém…

A verdade dói!”

O desconforto, as dores e as angústias são muito possíveis de acontecer, à medida que vamos encarando e assumindo as verdades. Se pararmos para realmente enfrentar as situações que precisam ser vividas, serão necessárias mudanças importantes e significativas e isto demanda energia, tempo, determinação e coragem.

O mais comum e ordinário é o indivíduo manter-se no automatismo e condicionamentos do sistema e sociedade, se ‘dividindo’ o tempo todo com os outros e criando papéis e personagens fictícios no teatro da vida.

Os “falsos Eus” (personas):

  • O indivíduo inventa um Eu para si mesmo;
    (o que ele desejaria ser, mas é diferente do que é)
  • O indivíduo inventa um Eu para o outro;
    (como ele se expõe e se expressa na relação com os outros, mas o que ele não é)
  • O indivíduo se permite ser aquilo que os outros projetam nele.
    (como o definem, o rotulam, o identificam, mas não o que ele é realmente)

O caminho da individuação é marcado por etapas fundamentais com a finalidade de se atingir a essência do indivíduo. Essas etapas, seguem-se pelo exercício contínuo da libertação (desapego) da persona (máscaras) que utilizamos para representar o que não somos, mas o que gostaríamos de ter/ser.

“Estamos dormindo com nossos olhos abertos, pois nos identificamos não com quem somos, mas com o que não somos, com nossas fantasias.”

Upanishads

O que sou Eu?

Individuação: o que sou “Eu”?É fundamental não confundir a individuação como sinônimo de atingir a perfeição. A individuação se propõe à completude, no sentido do indivíduo se integrar à totalidade de suas características, ou seja, à consciência de Si. Isso significa aceitar todas as qualidades e defeitos, tenham elas valor positivo ou negativo para o indivíduo.

O desenvolvimento da vulnerabilidade é um caminho fundamental para chegarmos mais próximos do “Eu” essencial”. Se permitir expressar, sentir e viver as instabilidades da vida, as fragilidades, dificuldades e desconfortos e desta forma, poder assumi-los.

É primordial também a prática meditativa, a fim de dissolver as ilusões e autoimagens distorcidas – a respeito de quem realmente somos e ao que nos propomos – essencialmente, nesta existência.

Veja o artigo 3 dicas meditativas.

 

Autorrealização e Propósito

O propósito da prática budista, assim como da psicologia junguiana, através da individuação, consiste no deslocamento do centro psíquico do Ego para a essência.

Isso é possível somente por meio da auto-observação e do autoconhecimento, questionando o propósito por trás de cada ação e, ao mesmo tempo, ampliando a percepção da situação de “fora para dentro”, ou seja, questionando o que estamos co-criando no “fora”.

Assim, vamos separando Ego de Essência e, percebendo o que é real e verdadeiro (Essência), do que é falso e ilusório (Ego) e vamos criando a possibilidade da autorrealização.

“O seu querer essencial te define…”

Eu quero…

A individuação é o caminho contínuo de integração do inconsciente com o consciente, e vice-versa. Pode-se pensar em um processo, com sentido e significado existencial, que na maioria das vezes está inconsciente e distante da realidade cotidiana e automatizada.

Ao desenvolvermos a individuação, naturalmente se desperta o caminho de diferenciação, separação, integração, coragem e verdade, com o propósito de sair da “normose” e da vida automatizada, e assumir “os quereres verdadeiros”, em direção à uma “busca simultânea de profundidade e expansão evolutiva”.

“Torne-te o que és!”
Píndaro

 

“Abandonar seus pensamentos é entrar em “zazen” e se permitir morrer…
Estudar a si mesmo, é necessário esquecer de si (identificação do passado)
Esquecer de si próprio é trazer a ordem ao interior.
E deixar que cada coisa ocupe seu verdadeiro lugar,
Sua natureza…”

Pensamento Zen Budista

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