Nesta aldeia global em que vivemos, onde tudo está conectado e interligado, a maioria das pessoas já tende a ser uma ‘fazedora compulsiva’. O tempo todo ‘temos que’ trabalhar, cuidar, arrumar, limpar, pagar, resolver, socializar, produzir e ‘chegar lá…’
Existe um grande anseio em sermos cada vez mais produtivos(as) nas atividades de uma forma mais ágil e veloz para ‘ganhar tempo’. A expressão ‘estar na correria’ já voltou a ser uma frase recorrente para a maioria das pessoas.
Resumindo, quando se fala ‘preciso ser mais produtivo(a)’, o que queremos dizer na verdade é que “precisamos conseguir desenvolver mais ações produtivas com menos esforço e em menor tempo”. Mas qual o propósito de tudo isso?
A verdade é que o ‘culto à produtividade’ atingiu seu pico. A pandemia nos possibilitou uma pausa maior na relação com o tempo, porém, hoje em dia, as 24 horas já são poucas. Não dá tempo para produzirmos tudo aquilo que idealizávamos e, a sensação ao fim do dia, é que fica sempre faltando algo e gera um senso de incompletude.
Quanto mais produzimos, mais queremos produzir e almejamos mais eficiência, excelência e resultados concretos nas atividades que nos propomos. “O culto à produtividade se reflete em uma ansiedade recorrente a resultados específicos idealísticos e que, na maioria das vezes, não condizem com a realidade do que é possível para aquele determinado momento.”
Certamente, muitos de nós gostaríamos de não precisar ser mais tão produtivos o tempo todo. Demanda muito tempo, energia, foco, determinação, atenção e nos priva de viver outras situações relevantes na vida pessoal e emocional.
“Que tal, em vez de ficar na correria a maior parte do tempo, por que não desfrutar e apreciar o momento presente e receber o ar, o sol, o céu, conectar-se com o corpo, a mente, as emoções, as relações interpessoais e nos permitir um pouco de ócio criativo e não produtivo?
Você se permite em seu dia a dia a estes momentos de ‘nadismo’ (fazer nada)??
O culto à produtividade
O culto à produtividade define um estado de ‘muito trabalho’ e ‘sem tempo para mais nada’, como se fosse um ‘status’ de prestígio, principalmente porque ele vem sendo vendido por uma legião de acadêmicos, MBA’s, coaches, palestrantes do TED e especialistas nomeados, como uma ‘rota mágica’ para conquistar o domínio profissional, o segredo do sucesso e a felicidade pessoal.
Os últimos 20 anos de constante expansão econômica deram origem à noção de que a produtividade em excesso gera prosperidade, pelo menos comprovadamente, no caso daqueles que estão no topo da hierarquia econômica.
No entanto, a ideia de que a produtividade determina o ‘valor’ de uma pessoa permanece internalizada na sociedade. É uma pressão que prejudica nossa saúde física e o bem-estar.
Estudos ao longo desses anos, mostraram como o stress pode enfraquecer o sistema imunológico e gerar inúmeras doenças e, também, demonstram como muitas pessoas se sentem culpadas quando param de trabalhar e se permitem relaxar durante o dia ou em períodos de férias, viagens ou na aposentadoria.
Quando você transforma o seu trabalho na sua identidade, acaba se limitando. Você não é o seu trabalho!
Tenho que…
O surgimento de uma ética de trabalho ‘sempre disponível’ significa uma inundação de mensagens automáticas por aplicativos móveis como o WhatsApp, Messenger e emails que seguem impiedosamente os trabalhadores até suas casas, muito além das demandas de uma jornada tradicional de oito horas.
A vida pessoal e emocional começa a se deteriorar e as atividades nestes temas funcionam, na maioria das vezes, somente como um ‘checklist’ também de obrigações a cumprir.
Desta forma, o tempo disponível para o lazer, atividades físicas, eventos e afins também pode se tornar uma forma perversa de produtividade tóxica que tende a criar uma lista de ‘experiências inesquecíveis e obrigatórias’, focadas nas rotinas saudáveis do dia a dia.
O culto às redes sociais para mostrar mais ‘produtividade’
Muito desse anseio por produtividade foi agravado pelas mídias sociais, onde as pessoas mostram diariamente suas realizações, apesar da pandemia.
Ao notar a produtividade de todo mundo nestas redes, o internauta – apesar de ser tão produtivo quanto possível – pode sentir que ainda não está nem perto de alcançar o que almeja ou de ser tão produtivo como mostram os colegas da mesma área de atuação, por exemplo, e isto pode gerar muitos desconfortos emocionais.
Temos visto pessoas produzindo muitas atividades no dia a dia: praticando jardinagem, produzindo eventos virtuais, criando vídeos no YouTube, apresentando lives no Instagram e fazendo aulas de exercícios físicos online, cinco vezes por semana, no Zoom.
Apesar destas atividades serem no âmbito digital, estas pessoas continuam num ritmo frenético de trabalho. Onde será que elas querem chegar? Para que tanta correria?
Como não fazer nada, resistindo à cultura da ‘correria do dia a dia’?
Você se lembra da última vez que aproveitou uma tarde de lazer, sem nada para fazer?
A escritora Jenny Odell, revela suas observações sobre como uma sociedade movida pelo capitalismo nos empurra para transformar cada minuto, de cada dia, em uma ‘oportunidade’ geradora de receita.
“Se não estamos ganhando dinheiro, estamos tentando aumentar nosso conjunto de habilidades, aumentando nosso conhecimento ou construindo nosso networking. Nos sentimos, diretamente ou indiretamente, ‘obrigados’ a fazer sempre mais e sermos mais.”
Que tal?
- Revisitar quais os propósitos de cada ação;
- Priorizar o que realmente é importante para o dia e a semana;
- Fazer uma coisa de cada vez, com atenção e alegria;
- Perceber se este ‘fazedor’ não é um escape para não entrar em contato profundo consigo;
- Em vez de celebrar nossas agendas lotadas, celebremos o silêncio, o lazer, o ‘momento presente’.
Sabemos que estes questionamentos podem parecer bem interessantes. Mas a identificação com a ‘matrix da produtividade’ pode estar tão presente em nossa realidade, que fica difícil perceber a existência de uma forma mais amorosa, consciente e desperta de viver e, assim, fazer as mudanças necessárias na organização do tempo e da rotina.
É preciso lembrar que mesmo sem um emprego que reforça esse sentimento de identidade, você ainda é uma pessoa. Você ainda existe fora do trabalho.
Produtividade tóxica?
É um termo popular para sinalizar um excesso de preocupação e dedicação ao trabalho. É uma maneira de produzir, que busca otimizar o tempo, sem levar em consideração a saúde mental, emocional e física.
Este tipo de prática tem se normalizado e sendo entendido como um dos principais motivos pelos quais vemos aumentar os casos de doenças como ansiedade, pânico, depressão, déficit de atenção, síndrome de hiperatividade, transtorno de personalidade limítrofe e, cada vez mais presente, a síndrome de burnout.
O excesso de cortisol também impede que nosso corpo produza serotonina e endorfina, hormônios responsáveis pela sensação de bem-estar, o que resulta em uma deterioração enorme da qualidade de vida.
Como identificar esse problema?
- Seu dia de trabalho se estende com frequência?
- Você trabalha em quase todos os finais de semana?
- Excesso de culpa em relação ao trabalho?
- Você sempre acha que deveria estar fazendo algo?
- Você troca atividades de lazer pelo trabalho?
- Você está o tempo todo ligado no celular e no computador, trabalhando?
- Tem exaustão excessiva, dificuldade em relaxar?
Um grande mito sobre produtividade
O maior mito e crença limitante de todos é, sem dúvida, de que você ‘precisa trabalhar muito para chegar aonde quer.’ E isso vai demandar muita tensão, esforço, desgaste e stress.
O mais crucial aqui é gerar uma reflexão sobre ‘qual o propósito maior desta correria produtiva?’. E, principalmente, como você quer chegar neste lugar idealizado?
A esperança é que a ideia de produtividade esteja menos ligada à realização individual e mais a um sentimento de comunidade.
Lifelong Worker
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