Começar a criar uma nova história a partir do “hoje”, é uma alternativa que você pode querer seguir. Não é esquecer o que aconteceu mas, sim, reconhecer e aprender com o que foi vivido e as consequências disto.
Sentir-se culpado é um dos sentimentos mais difíceis e desafiadores para os seres humanos. O indivíduo, muitas vezes, não consegue se libertar deste sentimento. Fica preso aos acontecimentos passados e aos traumas emocionais decorrentes. A sustentação da culpa gera uma baixa de vitalidade, energia e motivação para poder viver a vida em sua plenitude e abundância.
Normalmente, são atitudes indevidas em função de uma falta de consciência e/ou maturidade diante de questões que demandam responsabilidade e presença. Situações que não “soubemos” como lidar e agir no passado e que faríamos completamente diferente se fosse “hoje”.
A culpa é considerada saudável quando nos move em direção a pensamentos, atitudes e comportamentos criativos no presente. Com ela, podemos desenvolver novas possibilidades e caminhos saudáveis para sair daquela situação desconfortável que já aconteceu, que ficou para trás e não temos como mudar. Este tipo de reflexão criativa nos prepara para novas posturas na vida e evita a possibilidade de tomarmos as mesmas atitudes nocivas que, posteriormente, geram novamente culpas.
“Aprendi a lição, isto não vai mais se repetir e a vida que segue aqui e agora…”
Por outro lado, a culpa torna-se preocupante quando os pensamentos, comportamentos e posturas são direcionados de uma maneira egóica e recorrentes e transformam-se em uma forma de masoquismo e autodestruição.
Ao cometer um erro, ao invés de pensar “Sinto muito, eu cometi um erro”, a culpa tóxica nos leva a dizer “Me desculpe, eu sou um erro”, logo, mereço a punição. É aí que o alerta vermelho aparece: o apego ao sofrimento (sofrência).
Leia Desapego do Apego.
O sentimento de culpa
Se você tem consciência de ter feito algo nocivo em sua vida, trata-se do sentimento de culpa e, portanto, deve ser elaborado e compreendido, para que esse tipo de ação tóxica não se repita posteriormente. Quando assim é praticado, o sentimento de culpa é positivo.
Por outro lado, se sente-se culpado e continua com esta sensação, sem elaborar e refletir, então você está apenas acumulando o hábito de sentir-se culpado. O mesmo se dá, quando culpamos alguém e o sentenciamos por toda a vida.
O principal problema ocasionado pela culpa é o julgamento cruel e limitado, e consequentemente, a repetição de padrões de comportamentos e atitudes nocivas como o autojulgamento, a autopunição e a autossabotagem.
Isso acontece porque ao invés de buscar alternativas criativas e transformadoras para a própria evolução e aprendizado, o indivíduo cai num padrão de lamentação e vitimização, se sentindo não merecedor de alegrias e prazeres, como também, incapaz de transformar as situações da vida, e assim, a culpa torna-se uma desculpa para não mudar e se desenvolver….
“O passado só será libertado e perdoado quando realmente
desenvolvemos a aceitação e compreensão do que aconteceu…”
A culpa torna-se uma desculpa
Usar a culpa como justificativa para não mudar a vida no presente é muito comum para as pessoas que não se conhecem e não querem mudar.
Culpar os pais, a escola, a infância, o professor, o chefe, o(a) parceiro(a) ou a si próprio e assim, não se encarar e transformar o que precisas na vida diária, é muito comum e frequente em nossa sociedade.
“Culpa é imaturidade, falta de autorresponsabilidade…”
O ser humano está em um constante processo de evolução e os desvios do caminho fazem parte deste processo. É fundamental refletir como os “erros”, em condutas do passado, foram importantes para o aprendizado das mudanças nas posturas do presente.
Sabemos que é muito difícil conseguir enxergar e sair do ciclo paralisante da culpa. O mito da perfeição, da excelência, de um ideal ligado a uma autoimagem exemplar é muito grande. Como também a projeção de que “o(a) outro(a)” é perfeito e sensacional e nunca vai falhar.
Origem da culpa
Assim como a maioria das questões da mente emocional, a culpa origina-se na infância, principalmente nas situações de expressão de limites na relação com os pais e a família. Os pais, que nos primeiros anos de vida são considerados os deuses e heróis, à medida que a criança começa a se expressar, ela vai percebendo os limites e passa a ouvir vários “nãos” vindo diretamente dos pais.
Assim, ela deduz que eles estão falhando, logo, sente-se rejeitada, não-acolhida e começa a ter posturas agressivas e raivosas. Uma postura ambígua de amor misturado com ódio. A presença da culpa começa a emergir. E a criança inicia o ato de culpar os pais pelo que está acontecendo e as atitudes reativas delas surgem em função de um desconforto recorrente e uma ambiguidade existente.
A culpa se torna preocupante quando é recorrente e se perpetua por muito tempo, sem conseguirmos compreendê-la e nos traz a sensação de que estamos paralisados. A pessoa volta constantemente os seus pensamentos para ideias contínuas de negatividade e descrenças.
Veja o artigo O que você está sentindo?
“A experiência é aquilo que lhe permite reconhecer um erro quando você o comete de novo.”
Earl Wilson
Acontece pensamentos constantes do tipo:
Para si próprio: “Como eu fui estúpido(a)?!” e “Como não enxerguei melhor a situação?!”
Ou para o outro: “Você nunca vai conseguir mudar mesmo!!” e “Você é enganador e mentiroso!”
Estes exemplos são algumas falas costumeiras de depreciação que, se repetidas constantemente, levam a padrões de punição, sabotagens e deméritos. A questão é o desenvolvimento da auto-observação para não entrarmos em ciclos que nos deixam estáticos e que geram, posteriormente, muita angústia e sofrimento.
Há alguns estudos que investigam os motivos que levam algumas pessoas a não conseguirem sair desta “sensação paralisante”. Um dos possíveis fatores é o grande medo de sentir-se vulnerável e entrar em contato com memórias muito doloridas.
A culpa e o pecado também são instrumentos de controle usados pela religião para ter o poder e ditar as normas e regras da sociedade. Outras culpas muito comuns também são as de sermos felizes, termos abundância e prazeres devido a uma sensação errônea de deslealdade com nossos antepassados, família, sociedade, etc.
Acesse o texto Autossabotagem.
Exercício prático
Observe os seus pensamentos e veja como você reage a eles.
Antes de começar, é preciso entender o que acontece. Quando a culpa vier à tona, pare e observe: como você reage a esse sentimento? Quais pensamentos chegam à sua mente? Quais situações que despertam esse sentimento de culpa?
Se preferir, faça uma lista com duas colunas. Na primeira, coloque os pensamentos e, na segunda, os seus comportamentos e as suas reações. Antes de começar a pensar em alternativas, desenvolva a capacidade de observar de forma atenta como esse sentimento desagradável aparece e quais suas reações a eles.
Com o tempo, esse exercício vai te ajudar a conhecer e estudar os seus conflitos emocionais, ajudando a investigar o porquê de você se sentir dessa maneira.
“Compreender e aceitar que algo nocivo aconteceu no passado e que é preciso ser enfrentado no presente é o primeiro passo para o auto perdão ou o perdão do outro…”
Compaixão
É fácil falar, mas é difícil fazer… será?
Comece a desenvolver um diálogo interno no sentido de começar a aceitar e compreender mais a sua própria humanidade, ou seja, reconheça que, como todos os humanos, você tem falhas e fraquezas.
Naturalmente, você comete erros e sofre com eles. Todos nós sentimos o mesmo. Desenvolver a compaixão por si e pelos demais funciona como um antídoto para a culpa. Requer paciência, propósito e comprometimento com o tema, o que possibilita excelentes resultados.
Leia também Autocompaixão.
“Errar é humano. Mudar com eles é Divino…”
Autor desconhecido
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