A palavra alteridade vem do latim alteritas, que significa ser o outro, portanto, designa o exercício de reconhecer o outro, de o perceber como uma pessoa singular e diferenciada.
A alteridade é o reconhecimento da diferença, tanto na questão linguística como também no significado filosófico, pois a alteridade é o que é, por essência e definição: o diferente.
Nós vivemos em um planeta cujo as diferenças são enormes na maioria dos segmentos: cultura, sociedade, raça, economia, política, religião, hábitos e costumes. As diferenças estão em todas as áreas da sociedade.
O que está pandemia do covid-19 nos trouxe, entre outras coisas, foi a oportunidade de podermos enxergar o “Ser Humano” como mais uma espécie do “Planeta Terra” que precisa ser preservada e cuidada, numa visão global e integral.
O que aconteceu com um indivíduo em Wuhan–China, no início da pandemia, teve um reflexo na humanidade de todo o planeta em pouquíssimo tempo, ou seja, isso simboliza que estamos todos interconectados e interdependentes, e esta é uma evidência lógica e clara.
“A ideia da separação, de segregação, de fronteiras é uma ilusão!”
“Não existem muralhas que possam separar as pessoas.”
À medida que compreendemos e respeitamos o outro, estamos também fazendo o mesmo conosco. Poder enxergar e acolher o outro como ele é, torna-se o primeiro passo para a consciência da alteridade. E assim, acontece a possibilidade de criarmos relacionamentos saudáveis e criativos e que proporcionem uma vida harmônica e plena.
“In lak ‘esh! – Eu sou outro voce!”
Saudação do povo Maia
A consciência da alteridade
O ato de enxergar o outro como um ser singular implica em reconhecer que o outro é diferente de você. O reconhecimento da diferença individual é o primeiro passo para o exercício do respeito e da tolerância, pois se você quer que a sua individualidade seja respeitada, é necessário que, antes, você respeite a individualidade do outro.
A prática da alteridade traz a consciência de que cada indivíduo tem suas diferenças e distinções entre si. Contrário ao “ego”, que é a instância individual, a alteridade leva-nos ao reconhecimento e consciência da existência e da potência do outro e do coletivo.
Alteridade e empatia
É comum o pensamento de que alteridade e empatia são sinônimas, porém, são termos diferentes. Enquanto a empatia refere-se à capacidade de colocar-se no lugar do outro – sem uma consciência mais profunda das causas que fizeram o outro ser assim – a alteridade é a capacidade de reconhecer que o outro é daquele jeito porque ele é, essencialmente, diferente de você.
Desta forma, possibilita o despertar de uma compreensão mais ampla sobre o universo das relações e da vida em si. Além do reconhecimento da diferença, a alteridade propõe um respeito ético ao outro como um ser único e singular.
Alteridade na prática
O mundo está cada vez mais fragmentado e a tendência atual é o individualismo, um estilo de vida centrado no “Eu” que leva ao egoísmo.
O propósito da alteridade é deslocar-se do “Ego” para a “Essência” e desenvolver a criação de um elo (conexão) com o outro. Neste sentido, a alteridade encaixa-se em momentos de coletividade, dando lugar à tolerância, paciência, aceitação e compaixão.
Vejamos um exemplo de alteridade:
Imagine que alguns imigrantes e refugiados comecem a entrar em seu país, passando a habitar a sua cidade. Exercer a alteridade, nesse caso, é reconhecer que aquelas pessoas sofreram e que elas saíram de suas terras natais porque foram obrigadas ou porque queriam levar uma vida digna. Exercer a alteridade, nesse caso, é acolher e oferecer o apoio possível a elas (compaixão).
O outro em você (autoconhecimento)
Estamos acostumados, e muitas vezes até agarrados, a um tipo de materialidade e posse das coisas com o propósito primordial em busca do “ter” e não do “ser”. Assim, não se desenvolve o caminho da transcendência, o que impossibilita, muitas vezes, que mudemos nosso olhar sobre os contextos sociais e para os outros, sejam eles próximos ou distantes de nós.
Neste sentido, a proposta de ações com alteridade é resgatar nossa sensibilidade perdida em meio à brutalidade da vida. A maioria das vezes o olhar para o outro é um olhar competitivo, um olhar julgador, crítico e no conflito de poder e de hegemonia.
Veja também Despertar.
Convite à alteridade
Ser altero não é algo impossível. A todo momento, somos convidados ao exercício deste sentimento. Podemos praticá-lo toda vez que convivemos com alguém.
Praticar a alteridade é uma proposta ética, um estilo de vida, algo que se constrói e se realiza – de modo contrário à lógica que temos utilizado atualmente, enaltecendo o “sucesso” ou o “fracasso”, esquecendo que nem todos somos os melhores ou piores em determinadas áreas da vida.
Exige também olhar, reconhecer e aceitar a si mesmo com compaixão, perceber nossas forças e potências e as necessidades de desenvolvimento e evolução.
Alteridade e relacionamentos
Viver é relacionar-se e o desenvolvimento da alteridade traz inúmeros benefícios para a vida, entre eles, melhorar a qualidade das relações interpessoais.
Quando realmente conseguimos enxergar o outro como ele é, criamos um espaço sagrado entre o “eu e o outro” e desta fusão a relação se eleva em qualidade e profundidade.
Com a prática da alteridade surge naturalmente o poder da compaixão.
Veja também Compaixão.
Um exemplo da prática da compaixão e alteridade é o povo Zulu (África), que mantém a ideia de que os seres humanos realmente existem somente se os outros, no caso, a comunidade da tribo, os enxerga, reconhece e os aceita.
“Eu te vejo, te reconheço e estou aqui…”
Sawubona( saudação do povo zulu)
Que possamos, principalmente neste momento singular da humanidade, desenvolver a consciência da alteridade e, então, possibilitar uma qualidade de uma vida mais plena e sagrada para todos os seres que respiram aqui no Planeta Terra!
E um momento tão desafiador do planeta, 19/03/2021, este mantra
pode ajudar:
“Loka Samastah Sukhino Bhavantu”
“Que todos os seres sejam felizes e abençoados”
mantra hindu
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