A liberdade em Ser
A palavra “Graça” tem várias conotações e significados, entre eles: dádiva, pureza, benção divina, perdão, engraçado, divertido, gratuito. Apesar de possuir várias definições e interpretações, o quanto será que realmente a compreendemos em seu estado mais essencial?
O “estado de Graça” é utilizado num sentido mais amplo para designar alguém que está no sentimento de plenitude e paz interior, com profunda gratidão pela existência, sem se deixar afetar profundamente por circunstâncias externas.
Também se emprega com o sentido de aniquilamento de certos traços negativos da própria personalidade, onde a pessoa consegue se livrar de tormentos recorrentes como ganância, ódio, inveja ou egoísmo, comportamentos e posturas desconfortantes que afligem o ser humano, impedindo-o de viver em paz.
O termo tem origem no sânscrito, podendo ser traduzido por “extinção” no sentido de “cessação do sofrimento”. É uma renúncia ao apego (desejo), voltado aos bens materiais, sensações, projeções, expectativas e identificações que geram desconfortos e sofrimento.
O estado de Graça é similar ao estado de “Nirvana”, no Budismo, e significa o estado de libertação atingido pelo ser humano ao percorrer sua busca espiritual. Nirvana indica um estado contínuo de graça. Também é visto, na concepção Hinduísta, como a transição do Karma ao Dharma. A dor e o sofrimento como instrumentos primordiais para a evolução e o despertar (iluminação).
“A libertação (liberdade em Ser) acontece à medida que percebemos a nossa própria luz e reverenciamos a Graça da existência.”
Leia mais sobre Psicologia Budista.
A Graça no Budismo
Com seus 35 anos, depois de uma longa jornada de investigações sobre a existência e as causas do sofrimento, Buda, sentado em profunda meditação por muitas horas, abaixo de sua árvore predileta, alcançou o “Nirvana” ou o estado da “Graça”.
Esse é o estado mais profundo de consciência, quando o indivíduo encontra o verdadeiro silêncio e a ausência de desejos (a paz) e percebe a verdadeira luz que o habita, à medida que desconstrói as causas do seu próprio sofrimento, se libertando (desidentificando) das aflições físicas, mentais e emocionais desta existência.
Assim, Sidhartha tornou-se Buda, o desperto, inspirando milhares e milhares de pessoas em todo o mundo com o propósito de elevação de consciência e sair da Roda do Samsara (sofrimento).
“Acordar para quem você é requer o desapego de quem imaginava ser.”
Allan Watts
Foi então que, mesmo sendo acusado e perseguido por políticos, religiosos e vários sistemas dogmáticos, Buda seguiu seu caminho espiritual de divulgar e propagar seus ensinamentos, utilizando a meditação como fundamento para a qualidade da Graça. Ele desenvolveu o conceito do “caminho do meio”. Este caminho tem por propósito a cessação do sofrimento humano.
O caminho do meio é desenvolvido através do “Nobre Caminho Óctuplo”.
São eles:
- Compreensão correta: Compreensão de acordo com as “4 nobres verdades” sobre a maneira de entender as coisas como elas realmente são.
- Pensamento correto: O pensamento da renúncia, de desenvolver as nobres qualidades, não tendo má vontade em relação aos outros, não querendo causar o mal (nem em pensamento).
- Fala correta: Abster-se de mentir, falar em vão, usar palavras ásperas ou caluniosas. Falar a verdade, ter uma fala construtiva, harmoniosa, conciliadora.
- Ação correta: Abster-se de destruir a vida, abster-se de tomar aquilo que não for dado, abster-se da conduta sexual imprópria.
- Meio de vida correto: um modo de vida equilibrado, nem perdulário nem mesquinho e que não cause mal aos outros seres. Inclui ter uma profissão que não esteja em desacordo com os princípios.
- Esforço correto: Abandonar estados prejudiciais e as causas para futuros estados prejudiciais. Cultivar estados benéficos que tenham surgido e condições para futuros estados benéficos.
- Consciência correta: Desenvolver consciência do corpo, fala e mente, em linha com o caminho óctuplo. (ver artigo para mais detalhes).
- Concentração correta: Estabilidade e foco mental.
Veja também Despertar! O caminho para sair do sofrimento.
A Graça no dia a dia
O caminho iniciático está sempre vinculado à prática da “qualidade da presença”. A partir dela, estamos muito mais receptivos às “Graças” da vida.
Nós podemos, em nossa vida diária, termos lampejos de iluminação (Nirvana), ou seja, momentos de ampliação de consciência, de despertar para a existência e conexão profunda com o sagrado.
Aprender a receber, implica em estar presente, atento, disponível, merecedor das dádivas do “presente”. Implica em cuidar com muito carinho do que recebemos. Trazer valor e importância para a vida de momento a momento.
“Para receber os presentes, precisamos estar presentes.”
Dia de Ação de Graças
No Brasil, não se comemora, infelizmente, o “Dia de Ação de Graças”.
Nas culturas de origem britânica, este dia é muito comemorado e tem a intenção de trazer consciência às “Graças” do ano com o propósito de despertar a consciência da gratidão e da abundância.
“A gratidão vem de uma percepção diferenciada da Graça”
Questões para refletir:
Você compreende e vivencia o estado da “Graça”, através das seguintes questões:
- O quanto você é receptivo à vida?
- Ao despertar pela manhã?
- Ao sopro que você respira?
- Ao corpo que você tem?
- À família que você possui?
- Ao alimento que você come?
- À casa em que vive?
- Outros…
Graça, a dádiva de perceber o que é sagrado!
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