A “Presença” como caminho para uma vida plena
Tanto se fala em presença, em estar no “aqui e agora”, e em viver plenamente este momento, mas por que será que é tão difícil acessar esse estado de qualidade de presença? O que nos impede?
Uma das causas mais importantes, sem dúvida, é a nossa sociedade ocidental capitalista, focada na educação e cultura do “Ter” e não do “Ser”. Afinal, desde antes do nascimento, criam-se centenas de projeções, anseios e expectativas “de como deve ser o caminho do indivíduo para alcançar determinados resultados e metas, idealizadas em busca da tão sonhada felicidade e segurança.”
Vivemos em uma sociedade baseada no status e na competição e que desenvolve uma conexão com um falso eu – “o Ego” – e se utiliza do momento presente somente para esquecer totalmente do passado e, assim, corre rapidamente para chegar a um futuro projetado.
Nós fomos criados e educados para “chegar lá” e esquecemos do “aqui”…
Assim, a mente egóica surge como outro fator muito impeditivo para a conexão com o momento presente. Uma mente que não quer ter dores e desconfortos, e que vive fugindo de situações que precisam ser enfrentadas, onde a incerteza, insegurança e impermanência não podem existir.
Estar no “presente” é desenvolver uma disponibilidade interna de atenção, acolhimento e aceitação das coisas como estão. A partir disto, cria-se um movimento interno de transformação, daquilo que não é verdadeiro e que não lhe traz sentido à vida, para uma existência vivida com consciência dos propósitos essenciais e o desfrute do presente.
Estar no presente é resgatar o poder de viver sua natureza essencial através da verdade e espontaneidade e desfrutar um campo de infinitas potencialidades e possibilidades.
Perguntinha:
Como está sua relação com o tempo? Você é amigo(a) dele?
Observe atenciosamente sua mente por um dia e ela te dirá em qual tempo você mais habita.
Onde quer que estejas, esteja por inteiro.
Eckhart Tolle
A presença da ausência
O condicionamento, o automatismo e a apatia, frutos desta nossa sociedade robotizada, desfocada da conexão com o “sentir” e do “compartilhar”, tende a nos levar, cada vez mais e mais, para o estado da ausência.
E na ausência habita o medo, a insegurança, a angústia, a desconfiança, a escassez, a ansiedade, o stress e as insatisfações em vários níveis. E a nossa mente emocional, acelerada e desconectada do momento presente, nos leva a oscilações entre ansiedade e depressão, misturadas com doses de efêmeros prazeres e alívios imediatos.
Todo um sistema de crenças limitantes se desenvolve aqui: crenças na escassez, na perda, na falta, na dor, na doença, na solidão, na incapacidade, na morte iminente, etc.
A mente que “mente” tem o hábito de se distrair e escapar constantemente, (entre pensamentos, sensações, comportamentos e emoções desconectadas) de um propósito maior, vivendo uma busca contínua em preencher o que não dá para ser preenchido externamente: o vazio.
Veja: Medo do vazio.
Aprendemos sobre a ausência com nossos antepassados que, diante de tantos desconfortos ocorridos na vida, encontraram a solução de “escapar” e não entrar em contato com o “sentir” e com a realidade que seguia e, assim, se ausentar, fantasiar e projetar um mundo diferente “daquilo que é e que pode ser modificado a qualquer momento…”
Sofrimento iminente
Em busca constante do “Ter”, esquecemos do “Ser” e, aí, surge a ausência, a escassez e todo tipo de insegurança e insatisfação. Vivemos do apego ao desejo e num esforço imensurável para “ter e ganhar” e quando já conquistamos o que desejávamos, nós vivemos o medo e o pânico do “perder e faltar”. Assim, seguimos uma existência que presencia o sofrimento constante, apesar de tantos escapes, distrações e de conquistas ilusórias.
A perda do Agora é a perda do Ser. Estar livre do tempo é livrar-se da necessidade psicológica do passado para formar sua verdadeira identidade e um futuro que lhe permita atingir a realização pessoal…
Eckhart Tolle
O que é a presença?
O momento presente é um vasto campo de possibilidades e potencialidades. Um terreno fértil “onde as coisas se manifestam e onde elas se encerram”. É um fluxo e abertura para o novo e para o mistério. É a aceitação da vulnerabilidade e do constante ir e vir, de momento a momento, do manifesto ao não-manifesto, do consciente e do inconsciente e de tudo que está entre eles.
Para estarmos realmente presentes, é necessária uma boa dose de confiança e disponibilidade no “fluir da vida”, sem expectativas do futuro, e o desenvolvimento contínuo da leveza, atenção relaxada, aceitação, não julgamento e desfrute das situações como elas estão.
Veja o artigo: Aceitação.
Nunca penso no futuro, ele chega rápido demais…
Einsten
Física Quântica e o Agora
Hoje em dia, um campo enorme de perspectivas se abre através dos estudos da neurociência, da epigenética, da física quântica e da teoria dos campos mórficos.
Aquilo que permanecia restrito somente ao campo da espiritualidade e das teorias “marginalizadas” pela ciência materialista mecanicista, ganha espaço e chega com um olhar mais integrado e sistêmico.
Nos relacionamos com a linearidade do tempo cronológico do relógio, mas também com a característica espiralar do nosso tempo interno. Este paralelo dos “tempos” é desenvolvido pela física quântica através do campo da manifestação e do campo das possibilidades.
Nós somos frutos de nosso passado, mas temos a liberdade de escolher como viver o presente, e semear o nosso futuro.
Quanto mais vivermos no presente, mais possível será ressignificar o passado e cocriar um futuro com sentido e propósito verdadeiro.
Como sustentar a presença?
O autoconhecimento é a chave para a conexão com o momento presente. São vários os caminhos para o desenvolvimento da presença:
- Práticas conectadas ao corpo físico: auto-observação, meditação ativa, yoga,
tai-chi-chuan, terapias corporais, esportes, bioenergética, arte marciais, dança, vivências em grupo ou entre parceiros(as), etc. - Práticas que aquietem a mente: respiração, meditação, concentração, mantras, vivências artísticas, terapias diversas, retiros e workshops, contato com a natureza, prática do silêncio, relaxamento.
- Práticas voltadas às atividades corriqueiras do dia a dia, com foco de atenção ao momento presente: Mindfulness – acordar, despertar, tomar banho, comer, caminhar, respirar, falar, escutar, observar, ler, etc.
- Práticas voltadas à espiritualidade: prática da gratidão, silêncio, rituais, vivências, meditações, orações, experiências místicas, retiros, etc.
Só existem dois dias no ano que nada pode ser feito. Um se chama ontem e o outro se chama amanhã, portanto, hoje é o dia certo para amar, acreditar, fazer e, principalmente, viver.
Dalai Lama
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