É um instrumento fundamental para o autoconhecimento e desenvolvimento humano
A angústia é uma manifestação emocional perturbadora e incômoda, caracterizada por medo do fim, da perda e do vazio, além da sensação de um desamparo profundo. Seus sintomas principais são: a respiração tolhida, o sufocamento da garganta e peito, sensação de vazio, inquietação, dores na região do coração e uma ânsia inconsciente de que algo ruim vai acontecer.
A sociedade ocidental não se desenvolveu conscientemente em relação à finitude. Os temas relacionados à mudança, perda, desconfortos, impermanência e morte continuam sendo “tabus”, e são estas as sensações que nós buscamos escapar o tempo todo, na maioria das vezes, de uma forma inconsciente.
A angústia tem sua importância, fundamental, na questão do autoconhecimento e do desenvolvimento da inteligência emocional, vulnerabilidade, ausência de controle e na arte de se relacionar com a vida, as pessoas e as situações cotidianas.
“Siga a tua angústia, ela é o caminho rumo a ti mesmo…”
Friedrich Nietzche
Nascemos com a angústia da separação da mãe, a perda da segurança e do “colo eterno” e morremos com a angústia da separação das pessoas, da vida e do desconhecido, ou seja, a angústia faz parte da vida e é natural e saudável vivê-la, apesar do desconforto.
A angústia fica patológica quando a sensação do medo da perda, da falta e do fim torna-se super dimensionada. Este medo gera descrenças profundas em relação ao afeto, às experiências novas, à humanidade e o ato de existir e viver a vida em um movimento saudável e fluido. E ficamos com medo de agir, medo de seguir e caminhar para o “novo”.
A angústia aciona o mecanismo: medo (paralisia/desconforto) X desejo (agressividade/prazer)
Veja também o artigo “O medo do Vazio”.
Sociedade anestesiada
Nossa sociedade moderna, que está cada vez mais complexa, apegada e identificada com tudo que é externo (ilusões), com a mente profundamente agitada, desatenta e ansiosa para “chegar lá”, busca ter o controle e a segurança de tudo.
O anseio por este controle gera cada vez mais stress, uma instabilidade de mecanismos de fuga ou luta, de medos e desejos, e naturalmente a angústia fica mais presente no dia a dia.
A anestesia para não entrar em contato com o desconforto, vindo da angústia, acontece geralmente da seguinte forma:
- Consumismo compulsivo (objetos materiais de poder, roupas em excesso, alimentos em demasia, relacionamentos abusivos);
- Busca por prazer imediato (drogas, sexo, tecnologias compulsivas, diversões descartáveis);
- Aversão a relacionamentos afetivos profundos, a silenciar (pausar) e à intimidade;
- A identificação com pensamentos ilusórios e fantasiosos (falsas crenças);
- O desejo infindável de ser desejado, amparado, cuidado e amado.
Qual a importância da angústia?
A angústia traz clareza às verdades inconscientes e nos revela padrões, posturas e pensamentos condicionados. Desperta emoções arraigadas em nossa história de vida que muitas vezes vão se repetindo. É um instrumento fundamental para o autoconhecimento e desenvolvimento humano. E, na maioria das vezes, é o ponto inicial dos estados emocionais recorrentes e comportamentos automatizados.
Angústia em 2020
Estamos passando por uma fase muito alinhada com os estados emocionais da angústia, por conta da pandemia. Este período tão desafiador só catalisou estados emocionais já latentes, mas que não eram enfrentados conscientemente.
A mente humana está muito doente, vivendo somente reatividades, descrenças e destruições. E qualquer emoção/sensação desconfortável que possa chegar, gera julgamentos e aversões instantâneas.
Veja também o artigo “O Julgamento é um estado mental estagnado”.
Se não ampliarmos nossa percepção de quem somos e do que é esta existência, a chance de ficarmos olhando somente de uma forma negativa para as situações da vida é muito grande.
“A origem de toda a angústia é ter perdido o contato com a verdade…”
Vihelm Ekelund
Percepções sobre a vida que transformam a Mente, conforme a visão budista:
- Liberdade e oportunidade da nossa Existência Preciosa;
- Impermanência;
- Processo kármico de causa e efeito;
- A Dor que permeia a existência cíclica;
É preciso ter consciência que tudo que acontece agora está ocorrendo para você e por você, ou seja, para sua evolução espiritual. Mesmo que seja difícil enxergar sob esse ponto de vista, é importante entender que sempre há “algo de bom” por trás de tudo isso, até mesmo esse momento de isolamento, de ter que ficar mais tempo dentro de casa e não poder sair.
Afinal, quantas vezes você não pensou que gostaria de ter mais tempo de olhar para si próprio, se cuidar mais e dos seus afetos, fazer suas meditações e exercícios, ler aqueles livros, assistir a filmes e arrumar aqueles armários?
Acesse também esse artigo sobre “Respiração e Consciência”.
Como lidar com a angústia?
Se não respiramos profundamente, não criamos contato conosco e com os sentimentos, emoções e sensações. A angústia sinaliza o “aperto” de emoções reprimidas que precisam ser conscientizadas e liberadas. “E tudo que a gente resiste, persiste.”
Portanto, abrir espaço para respirar profundamente e acolher o que vier é o passo fundamental para lidar com essa sensação. Aceite esse momento como ele está, escolha olhar pela perspectiva positiva da situação: “Que bom que está acontecendo tudo isso agora!”.
Práticas respiratórias, atividades aeróbicas, artísticas, de lazer e culturais, além de procurar estar próximo à natureza e, principalmente, desenvolver a intenção de estar presente, se permitir sentir e se auto observar são atividades fundamentais para o processo.
O que vem pela frente e como será esse novo futuro, ninguém faz a menor ideia. Despertar para o saber de que a finitude prenuncia o novo e toda mudança tem seu fundamento, tornará o seu estado de “desconforto” mais consciente e menos traumático. Estar aberto(a) e confiante ao grande mistério do viver é um passo primordial para aprender a lidar com a angústia.
A consciência meditativa, através da pausa e do silêncio, é fundamental para sairmos do mecanismo de luta ou fuga. E sempre que a angústia chegar, busque observar o que ela está te dizendo, qual seu aprendizado, ao invés de reagir compulsivamente e escapar através das anestesias.
Em função desta fase desafiadora de confinamento e “apertos” que a maioria das pessoas estão passando, ocasionando problemas como stress, ansiedade, solidão, tristeza e angústia, desenvolvi um programa de atendimento presencial e online chamado “Terapia do Ser”. Experimente!
“As inibições respiratórias são elementos fundamentais de todas as neuroses…”
Wilhelm Reich
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