Normalmente enxergamos a solidão como “a falta do outro”. Ou melhor, a falta da presença, da conexão, do amparo, do colo, do contato, da atenção. A falta de sociabilidade, do compartilhar, do trocar, do se relacionar mais íntima e profundamente com outro ser humano. A angustiante sensação do “vazio”.
A solidão, quando sentida neste “estado de falta”, gera um vazio existencial e é muito sofrida, inquieta e triste. Pode nos levar a emoções e sentimentos nocivos e tóxicos.
Estamos vivendo um período de muita conexão virtual e tecnológica, ou seja, nos relacionamos muito bem com muitas pessoas virtualmente, mas, ao mesmo tempo, estamos muito ausentes de contato social (solidão) e de presença, sendo que os encontros físicos estão praticamente inexistentes. Esta temática se acentuou demasiadamente com a questão pandêmica do isolamento e toda as consequências disso.
Muitos dos transtornos mentais da atualidade são decorrentes da solidão e do isolamento social, o que pode ser um gatilho para a depressão, a ansiedade, o pânico e o stress, em vários níveis.
Será que neste estado de solidão, além da falta do outro, não sentimos também, uma falta de nossa essência, de um propósito maior, de um sentido mais significativo para as coisas?
Perguntinhas importantes:
- Do que você sente falta quando está só?
- Esta falta diz respeito somente ao outro(a)?
- Como está seu relacionamento íntimo com você?
- Gosta de ficar sozinho?
Não corras, não tenhas pressa. Onde tens que ir é só a ti mesmo.
Juan Ramón Jiménez
Veja: Solidão ou solitude.
O medo de estar e ficar só…
Quanto mais vivermos momentos contínuos de isolamento social e solidão, existirá uma grande possibilidade de se ampliar o medo de estar e ficar só, e este padrão de pensamento pode gerar muito sofrimento no decorrer da vida.
Se continuarmos resistindo às incertezas, aos desconfortos e às inseguranças da vida, buscando ter o “controle” das situações – para que não soframos mais – a nível mais profundo, estaremos, na verdade, vibrando a energia do medo em vários níveis.
E quanto mais nutrirmos o medo, iremos gerar ainda mais escassez, falta, carência e, consequentemente, desespero, apego, dependência e, em conjunto a tudo isso, a crença da solidão que tende a se expandir mais e mais com o passar do tempo.
Assim, buscamos no “externo” ou no “outro”, a solução de nossos problemas. E enquanto este outro “não aparece e não resolve nossas questões difíceis”, continuamos insatisfeitos e infelizes e sentimos a necessidade profunda de fazer algo para resolver logo a tal questão desconfortável. Simplesmente, não desejamos sentar e experimentar o que estamos sentindo, ou seja, “oferecer a nós mesmos” o acolhimento do que está acontecendo.
Normalmente, vemos a solidão como um inimigo, como algo que devemos correr e não enfrentar. Afinal, a solidão não é uma vivência que escolhemos, espontaneamente, convidar para nosso encontro. Ela, na maioria das vezes, tende a ser inquieta, desconfortável e angustiante e optamos imediatamente pelo desejo de “escapar” e encontrar alguma coisa ou alguém que nos faça companhia e nos traga satisfação.
Veja: Autossabotagem.
A solidão acompanhada
A solidão pode tornar-se também muito sofrida, quando estamos próximos e íntimos de pessoas, relacionamentos e/ou grupos e, mesmo assim, nos sentimos isolados, sem conexão, sem atenção e presença.
Neste tipo de situação, não existe mais uma troca saudável que expanda a relação e a conexão. Na maioria das vezes, tornam-se relações automatizadas e acomodadas em torno de segurança, status, poder e que geram muita apatia, irritação e desconfortos.
Veja: Insatisfação.
Dor: a rejeição ou abandono do outro
Sofrimento: Auto rejeição ou autoabandono
A sensação de rejeição ou abandono do outro em nossa história, principalmente no primeiro setênio de vida (0 a 7 anos), é muito comum para a maioria de nós e provavelmente foi muito sofrida quando isto aconteceu. Assim, buscamos intensamente não repetir este tipo de situação e muitas vezes, nos abandonamos para não vivermos novamente esta possibilidade dolorida.
Eu me abandono por medo de ser abandonado(a).
Quando alguém nos abandona, por exemplo, não queremos permanecer com esse penoso mal-estar. Em vez disso, evocamos mentalmente nossa bem conhecida identidade de “vítima infeliz”. Desenvolvemos autopiedade e baixa autoestima e/ou autopunição e autojulgamento.
Porém, chega um momento na vida em que despertamos para a autoria de nossa história, e desenvolvemos autorresponsabilidade e compromisso interno. Nesse momento, acontece a sagrada transição de solidão para “solitude”.
Solidão: falta do outro – vazio – escassez
Solitude: presença de si – plenitude- abundância
Veja: Autorresponsabilidade.
6 Atitudes para o desenvolvimento da solitude
Segue abaixo 6 sugestões para a prática:
- Autoconhecimento – meditação;
- Aceitação e acolhimento do que está…;
- Autocompaixão e autoamparo;
- Propósito e comprometimento;
- Evitar atividades desnecessárias;
- Desejar menos.
1- Autoconhecimento e meditação
Conhece-te a ti mesmo e conhecerás o Universo.
Oráculo de Delfos
Práticas:
- O desenvolvimento e atenção a si;
- A conexão com a realidade;
- O mergulho na história de vida;
- A “percepção” da mente e das crenças limitantes;
- O despertar do observador;
- A “não identificação” com pensamentos, sensações e emoções.
2- Aceitação e o acolhimento do que está…
Eu respiro o desconforto, e aceito e confio na vida como ela é…
Práticas:
- A compreensão de que tudo é processo…
- A lei da impermanência
- O desapegar do controle e do julgamento
- O relaxar e desfrutar o que está…
- A conexão com o silêncio, apesar do barulho externo
3- Autocompaixão e auto amparo
Eu me amo e me aceito como sou.
Práticas:
- O desenvolvimento da autoestima;
- O “respirar do desconforto”;
- O dar-se colo e autocuidado;
- A atenção e auto-observação amorosa;
- O “ser” a sua melhor companhia.
4- Propósito e comprometimento
Não existe grau de dificuldade, apenas grau de comprometimento
Wictor Magnus
Práticas:
- Observar os propósitos por trás das ações;
- Desenvolver o comprometimento a partir do propósito;
- Conectar-se com a verdade e a abundância;
- Desenvolver a disciplina com aquilo que é sagrado;
- Traçar pequenas metas para o dia a dia e realizá-las.
5- Evitar atividades desnecessárias
Se quiser encontrar o sentido, pare de correr atrás de tantas coisas.
Ryokan
Práticas:
- Diminuir as ações fazedoras;
- Abdicar das distrações em função de resultados;
- Aquietar e relaxar;
- Praticar o “nadismo” (fazer nada);
- Parar de fugir do que está sentindo.
6- Desejar menos
Não se identificar com os desejos, simboliza relacionar-se diretamente com as situações, do modo como estão.
Práticas:
- A não identificação com os desejos;
- Acolher o desconforto sem escapar ou distrair;
- Observar os escapismos;
- Abdicar de hábitos e vícios nocivos;
- Diferenciar desejo (que vem do ego) de vontade (que vem da essência).
Borá praticar!!!
A maior solidão é a ausência de si…
Nilton Bonder
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