Solidão ou Solitude? Como você se relaciona com elas?

Solidão ou Solitude? Como você se relaciona com elas?

Solidão ou Solitude? Como você se relaciona com elas?

A sensação da falta, projetado em alguém externo, está muito relacionada com a falta de presença interna, de conexão com o Eu. Portanto, a solidão é a falta primordial de Si.

Todos nós, em vários momentos de nossas vidas, passamos por experiências em que ficamos sós. No início de tudo, desde que foi cortado o nosso cordão umbilical e saímos do calor, conforto e segurança do útero materno, começamos a sentir a dor da separação e desenvolvemos o senso do “Eu”. Logo, vamos percebendo que existe o “outro” e naturalmente, no processo da relação, vão surgindo momentos desafiadores de vazio e solidão quando o outro não está presente.

Entre 8 meses e um ano de idade, segundo estudos de desenvolvimento infantil, a criança percebe realmente este distanciamento e a separação com a mãe (o outro) e muitas vezes se desespera quando ela sai de perto e se percebe sozinha. Não existe mais cordão umbilical, nem colo e leite materno para acolher o tempo todo. A criança já se alimenta, se expressa, se move por conta própria, apesar de uma extrema dependência para tudo isso.

O desamparo é apreendido ali, neste momento especial, onde a criança se percebe como um indivíduo que está só e não tem a atenção amorosa do outro, a todo momento. As sensações de abandono, rejeição, medo, raiva e vazio começam a se desenvolver profundamente neste período.

Esta fase fundamental de conexão com o “Eu” e da relação com o “outro”, pode gerar muitos padrões, crenças e comportamentos na vida adulta, dependendo de como foi administrado este momento na relação com os pais e família e no desenvolvimento da relação consigo.

O momento determinante de colocar os limites, de parar a amamentação, do colo excessivo, de uma atenção extrema, de não deixar mais dormir na mesma cama e afins, serão cruciais na continuidade, nas escolhas e percepções da vida e dos relacionamentos.

Solidão ou Solitude? Como você se relaciona com elas?É fato que o processo da parentalidade, do que é certo e errado na educação dos filhos, é muito subjetivo e depende de cada caso, pois existem muitos fatores que determinam a forma de educar. Questões sociais, culturais, econômicas, religiosas, pedagógicas, familiares, crenças e valores fazem parte disso

A verdade é que muitos de nós, tivemos a sensação da falta e desamparo em muitos momentos de nossa infância, por mais que nossos pais estivessem presentes a maior parte do tempo. A questão primordial é “o como” nós aprendemos e vivemos em nossa infância a relação com a solidão e com o vazio e isto depende muito de cada indivíduo e de seu contexto familiar e responsivo.

Se crescemos num ambiente de “falta” e não foi nos ensinado como lidar com este tema quando a mãe não estava presente, a criança sente-se rejeitada, desamparada, não amada, pois tem uma necessidade extrema da mãe (dependência).

O apego significa: “Eu preciso do outro para ser feliz”

 

O amor significa: “Já sou feliz comigo e quero compartilhar este momento com você”

O apego e o amor nas relações se misturam e podem trazer muitas confusões recorrentes nos relacionamentos amorosos na vida adulta. Os períodos de solidão e abandono – o silêncio, a quietude, a liberdade e a paz – podem tornar-se algo desesperador e aterrorizante.

A criança, então, cria anseios para sair da sensação de desconforto devido à falta de presença do outro, busca escapismos imediatos para fugir da solidão. Desenvolve caminhos de recompensas para não lidar com a angústia do “vazio”.

Pode acontecer de se atrair por sensações efêmeras de prazer e comportamentos nocivos: alimentação com muito açúcar, condimentos e farináceos; videogames com sensação de ganhos e conquistas; apegos a objetos, presentes; chantagem emocional em busca de atenção, etc. Os padrões viciantes se ampliam e podem gerar futuros viciados na fase adulta.

Veja também o artigo Qual a importância da angústia.

“Retira-te para dentro de ti mesmo, sobretudo quando precisares de companhia…”

Epicuro

Diferença entre solidão e solitude

A presença do outro não é determinante nesta questão, muitas vezes, pode acontecer de você estar completamente cheio de gente à sua volta e sentir-se completamente só (solidão), como também, pode estar totalmente sozinho e isolado e sentir-se pleno e em paz (solitude).

Solidão

A solidão é a sensação de vazio, a falta de algo em sua vida. É a ausência do outro, é a “mente” que se desloca do presente e fica pensando no que não está acontecendo no “aqui e agora”, mas que deveria acontecer, porém não aconteceu. Portanto, é um estado de ausência do momento presente, uma falta de presença, o vazio do Eu- Essência.

Uma sensação profunda de desamparo, de desconexão, de não-pertencimento, de isolamento. Essa sensação pode gerar muita amargura, raiva, medo, tristeza e depressão.

A sensação da falta, projetado em alguém externo, está muito relacionada com a falta de presença interna, de conexão com o Eu. Portanto a solidão é a falta primordial de Si.

“Quanto mais silencioso você se torna, mais você é capaz de ouvir…”
Rumi

Solidão é auto-abandono, a falta primordial de si!

Quando estas sensações de abandono, rejeição e perdas estão presentes e a inabilidade em lidar com elas é muito notória, a maioria das pessoas (de uma forma quase inconsciente), assim como as crianças na infância, buscam externamente o que deveria ser consertado internamente. Correm em direção as gratificações e recompensas para aliviar as tensões, seja em compulsões materiais, alimentares, drogas, sexo e outras variadas formas de escapismos.

A psicologia aponta que os transtornos mentais são muito comuns em pessoas que se sentem sós e isoladas e esta condição pode ser um gatilho para as crises de síndrome do pânico, ansiedade, stress e depressão profunda.

Este momento desafiador de pandemia com o Covid-19 só ressalta estes temas. Leia o artigo: Do tédio ao ódio em tempos de pandemia.

Também, uma das piores formas de solidão é quando você tem um parceiro(a) e, mesmo assim, se sente só ou quando está num ambiente familiar ou social com muitas pessoas e também sente o mesmo.

“Antes só do que mal acompanhado…”

Solitude

A solitude é uma presença transbordante de plenitude e amor próprio, onde não existe a dependência ou necessidade de alguém para se relacionar ou conviver.

“Solitude é a presença de Si mesmo, a experiência do o amor próprio…”

Quem pratica a solitude, não sente receio nem desconforto em estar sozinho, pois está no prazer de sua própria companhia. É neste momento especial que podemos ampliar o autoconhecimento, autoestima e inteligência emocional, e assim, permitir nos amar e nos aceitar como realmente somos, independentemente da aprovação do outro.

Ter um tempo sozinho e de autobservação é essencial para o desenvolvimento humano. Caso você não o tenha naturalmente, busque desenvolver a permissão interna para criar intimidade consigo e ter estes momentos especiais onde podemos ouvir nossos pensamentos, sensações, emoções e insights.

Praticar a solitude

Experimente marcar um encontro diário mais intenso com você mesmo. Pode ser uma caminhada, uma prática artística, um almoço prazeroso, um banho relaxante, praticar meditação, yoga, etc ou, simplesmente, ficar em algum canto que gostes em silêncio por algum tempo, sem fazer nada (praticar o nadismo).

Relacionamentos afetivos

Solidão ou Solitude? Como você se relaciona com elas?Caso mantivermos o distanciamento interno e a falta de conexão e contato interior (autoconhecimento/autoestima), a solidão e a separação serão as referências na forma e nos comportamentos do viver. Assim, o vazio, a escassez, a carência e o desamparo tornam-se recorrentes em nossa rotina e a tendência em nossas relações é projetarmos no outro, aquilo que não praticamos conosco.

À medida que desenvolvemos a solitude, as questões externas de relações, situações e pessoas à nossa volta já não tem a máxima importância em nossa vida, e percebemos que a felicidade, o amor e a realização não dependem do outro, não está fora de nós…

A qualidade de presença em solitude (autorresponsabilidade) é fator determinante no universo das relações, principalmente nas relações intimas, pois só podemos ter intimidade, acolhimento e presença amorosa com outro, se já a praticamos diariamente conosco.

Veja também Desapego do apego.

O que você escolhe?

Manter-se em solidão, e cair na vitimização?
Manter-se em solitude, sendo o autor?

Protagonize…

“Seja uma luz para ti mesmo…”
Buda Gautama

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