2020 nos serviu para mostrar que, seja no nível individual ou global, é importante lembrar que estamos interconectados. As ações de cada um podem afetar o coletivo. Existe o “Eu” e também existe o “Outro”. Uma oportunidade rara de poder olhar para a força do “nós”, do coletivo unido.
Desde a história antiga, as pandemias assustam a humanidade. Peste negra, cólera, tuberculose, gripe espanhola, mataram milhões de pessoas em todo o mundo. Algumas doenças foram erradicadas, por meio de medicamentos e vacinas. Agora, a vinda do Covid-19 trouxe novamente pânico a todas as nações, colocando a maioria dos países em quarentena e causando milhares de mortes e sofrimentos em vários níveis.
Um ano que nos obrigou a sair da automatização e alienação de nossas vidas condicionadas e abriu espaço para reconhecer o valor de muitas outras questões importantes que deixamos de lado ao longo de nossas vidas: autocuidado, saúde, relacionamentos sagrados, família, amizade, lazer, felicidade, paz, espiritualidade, qualidade de vida, autoconhecimento, relação com a natureza, etc.
Com a chegada inesperada da pandemia nos assustando, paramos forçadamente do lugar do “eu estou na correria” e fomos obrigados a nos fixar em espaços fechados, limitados pelas paredes do lar, para chegar no lugar do “fique em casa” e, assim, fomos chamados a refletir e a rever a nossa “casa interna” também.
Olhar com tanta pressão externa para a “casa interna”, de uma forma abrupta como foi, nem sempre é agradável e tranquilo. Mas, sem dúvida, pode ser muito libertador e curador. Uma explosão de memórias, traumas, emoções tóxicas guardadas, doenças do corpo e da alma, resultaram na abertura da “Caixa de Pandora”.
“Caixa de Pandora” e a Esperança
Na mitologia Grega, Pandora foi a primeira mulher que existiu. Recebeu de cada um dos Deuses um presente. De um, recebeu a graça, de outros, a beleza, a persuasão, a inteligência, a paciência, a meiguice, a habilidade na dança e nos trabalhos manuais.
Hermes, porém, pôs no seu coração a traição e a mentira. Foi feito à semelhança das deusas imortais, como um castigo de Zeus aos homens. Casou-se com Epimeteu que tinha, em seu poder, uma caixa que havia ganhado dos deuses.
Nela, continha todos os males – doenças, guerras, poder, ódio, inveja, orgulho. O marido avisou a mulher que não a abrisse. Pandora não resistiu à curiosidade, abriu a caixa e os males escaparam. Por mais depressa que tentasse fechá-la, não houve tempo e a humanidade foi afligida pelos males.
“Apenas um mal ficou na caixa e não saiu, a esperança.
Fica uma pergunta pertinente, a esperança estava na caixa porque também é um mal?
Ou a esperança é um bem por isso sustentou-se e não saiu? A resposta está: que depende de quem e como a utiliza…”
Esperança vem de esperar, e isto pode ser considerado um mal, se este “esperar” for passivo, iludido, fanático ou pode ser um sentimento do bem, quando a esperança se transforma em fé e realmente acreditamos que o melhor virá e seremos fiéis ao propósito de esperar e o mais importante, “o que e como” fazemos enquanto esperamos.
Sintomas tóxicos na humanidade
A pandemia abriu a caixa de sintomas (pandora) que já habitava dentro do humano há muito tempo. Como os escapismos estão mais difíceis pela falta de mobilidade, contato e socialização, isso nos força a “mergulhar” naquilo que está mais inconsciente e reprimido na vida humana.
No individual: violências domésticas, feminicídio, assédio, perdas financeiras, crises conjugais e familiares, ansiedade elevada, carências, angústias, inseguranças, medos, stress, síndrome do pânico, neuroses, luto, depressão, suicídio, doenças de todos os tipos e contato intenso com a morte.
No coletivo: violências, explosões de ira, pré-conceitos, racismo, rivalidade, competição abuso de poder, crises sociais, hipocrisia, sistema social, econômico, político e de saúde incapazes de lidar com o humano e inúmeras fraudes em todos os níveis.
Todos estes dados já foram catalogados e pesquisados e, infelizmente, aumentaram muito neste período de isolamento social. Fato é que os consultórios de psiquiatras, médicos, psicólogos, terapeutas e afins aumentaram muito o número de visitas, como também o aumento de ocorrências policiais, devido à violência.
Veja o artigo Consciência.
O que poderemos aprender com tudo isso?
De repente, a constatação da vulnerabilidade através da fragilidade física, em que a vida de todos se vê ameaçada por um vírus que prenuncia a morte iminente hoje ou logo mais. Isso gera uma percepção diferenciada sobre a existência que, a princípio, traz muitas dores e desconfortos em vários níveis, mas pode ampliar muito a consciência de quem somos aqui
e o que estamos realizando nesta existência.
A qualidade da esperança, quando bem trabalhada, transforma-se em fé, em fidelidade com o propósito, ou seja, em criar um comprometimento com o que realmente é valoroso e primordial na vida.
Leia também o artigo Fé.
O excesso de situações dolorosas e desconfortáveis neste ano, nos convidam a nos cuidar mais, mas também a cuidar dos outros (alteridade), ter mais atenção e foco ao que nos aflige. Fomos obrigados a desenvolver a “coragem” de enfrentar as situações adversas sem escapar delas e, assim, pudemos ampliar o nível de consciência. Desta forma, ocorre o despertar para aquilo que é verdadeiro e essencial. Ampliando o nível de consciência, percebemos que o grande caminho de cura é a dádiva do amor.
Ensinamentos:
- Vulnerabilidade
- Fragilidade Física
- Morte mais próxima
- Dores e desconfortos
- Esperança
- Fé
- Alteridade
- Coragem
- Consciência
- Amor
“A dor é um clamor de amor por si…”
Os ensinamentos têm sido muitos, de várias formas e em diversos níveis. A humanidade está tendo a oportunidade de evoluir no caminho da consciência e no despertar do verdadeiro amor. Amor à esta existência, amor à Mãe Terra, amor à nossa espécie humana e às relações interpessoais, despertando para a conexão com o coletivo.
Estamos diante de uma grande possibilidade de integrar o “Ser” ao “Humano”. Se vamos aprender todos estes ensinamentos?? Não sabemos…Depende de cada um de nós…. Você está fazendo a lição de casa?
“A vida é uma escola.
Os acontecimentos, nossas lições.
As perdas, nossas provas.
A experiência, nosso diploma…”Peter/2008
Leave a Reply