Quais os tipos de apegos que você mantém na sua vida?
Um dos estados mentais mais desafiadores é a mente que fica ‘parada’ e ‘apegada’ a um tema específico. A mente que permanece e insiste numa mesma questão o tempo todo.
A mente que mente, e se ilude com um ideal do que seria o ‘melhor’ e insiste nesta busca ansiosa por este resultado específico.
O apego que tem características de posse, do poder, do pertencer a algo, tem como base
o querer ter o controle e normalmente o ter o ‘controle’ tem uma causa primordial que são as inseguranças e os medos.
“Eu controlo por que tenho medo e não confio…”
Assim desenvolvemos um padrão de apego que é o apego ao controle das situações e da vida no geral, como também no universo dos relacionamentos buscando resultados específicos e bem determinados, fugindo das incertezas e do desconhecido.
Possivelmente um dos maiores apegos que temos é o do autoagarramento, ou seja, o apego a uma autoidentidade idealizada (falso Eu) e uma necessidade de sustentar
esta identidade.
A partir disso, decorre o apego ao controle. Controlar a permanência do que achamos o melhor, o certo, o bom, o ideal. Portanto, é fundamental investigarmos uma questão que é muito relativa em nossas vidas: o que realmente é o melhor e o certo para nós??
Muitas vezes o que ‘achamos o ideal’ é totalmente ilusório e fantasioso. Se olharmos para a origem e manutenção dessas ilusões, vamos perceber que elas são retroalimentadas durante toda a nossa vida.
São os tipos de experiências que nos foram passadas como sentenças de verdades absolutas. Basta você relembrar frases, pensamentos e posturas transmitidos para você em sua infância, por seus pais, professores, tios, avôs, etc.
Estes dogmas e crenças limitantes, tem por princípio, a preservação e sustentação dessas sentenças proféticas, buscando pseudocertezas e ilusórias seguranças. A partir disto, achamos que se pudermos controlar os sentimentos e pensamentos que temos, como também as pessoas com as quais nos relacionamos e também as situações do externo, seremos irremediavelmente felizes.
E esta é uma das maiores ilusões que mantemos na vida, pois toda vez que tentamos controlar o que realmente idealizamos, percebemos que é impossível chegar no resultado idealístico emocional pretendido (ilusória realização profunda) e, muitas vezes, caímos na sensação de fracasso e perda. Vamos desapegar do ideal e vivenciar o real!
“Apegar-se a permanência é sofrer com a impermanência…”
Por que sofremos tanto com as mudanças?
As mudanças implicam em disponibilizar uma carga energética extra (física, mental, emocional), além do costume. Demanda coragem, foco, determinação, fé e principalmente amor próprio.
As mudanças implicam numa abertura interna para se permitir o novo e o desconhecido. Elas implicam na coragem de arriscar e ousar sem a segurança alguma do que virá.
“O apego ao velho e conhecido e o medo do novo e desconhecido…”
O Budismo chama esse sentimento de sofrimento de mudança. Sabemos, por experiência, que tudo o que fica parado, apodrece, e que ausência de movimento é sinal de morte.
O corpo físico, quando chega à morte, paralisa e endurece pela falta de movimento e pulsação. A vida é caracterizada pelo movimento, portanto, a permanência das coisas é sinal de não-vida, é sinal de morte!
E muitas vezes, estamos completamente paralisados com as memórias, sentimentos e crenças do passado, ou com a projeção e ilusão de um futuro determinado por nós.
Quais são os apegos que estão te mantendo em desconforto?
O apego ao controle de resultados mata o sentido, a vida e a naturalidade das coisas. Pois na vida, todo movimento é necessário, e enquanto ficamos apegados às certas ilusões com medo de sofrer ou com ânsia do prazer, a vida já está acontecendo…O tempo passa e não para…
A ilusão é nociva, pois cria expectativas e necessidades que não existem. Se nos deixamos levar por ela, podemos ao longo do tempo, cair em um abismo cheio de dor, desconstrução e sofrimento, causados por nós mesmos.
“Bem vinda a des-ilusão, ou seja, sair da ilusão!!”
E a permanência é uma dessas ilusões, assim como o ideal de que podemos controlar as situações que estão à nossa volta. Muitas vezes, temos certa dificuldade de perceber a realidade como está, devido ao nosso Eu ilusório, o ego, que pretende sempre se manter no ‘poder’ e assim, sustentar a permanência através do apego à sentimentos, emoções, momentos e pessoas. É uma defesa interna sabotadora.
Além do apego a uma auto imagem pré-estabelecida, as projeções também são formas de apego sempre com propósito de proteção, segurança, estabilidade. O apego normalmente está embasado no medo da perda, ou seja, na posse de algo ou alguém que posso perder no decorrer da vida. A tentativa de preencher o vazio, através dos apegos é totalmente frustrante….
São várias as formas de apego: à posse da matéria, a projetos e ideais, ao reconhecimento, às sensações, a um relacionamento, às emoções, aos sentimentos, aos pensamentos, a uma pessoa específica, ao passado, ao futuro, ao julgamento dos outros em relação a você, às crenças e ideias pré-conceituadas.
“A Consciência como agente de transformação…”
À medida que vamos desenvolvendo o autoconhecimento e a auto-observação de nossos pensamentos, sentimentos, palavras e ações, vamos desconstruindo as crenças limitantes que foram apreendidas no passado e podemos começar a ressignificar o que realmente é verdadeiro em nossas vidas e em nossas escolhas, no momento presente.
Na Psicologia Budista, os três estados mentais não hábeis que mais levam ao sofrimento são:
- O apego, a aversão e o maior deles: a ignorância.
- A mente que mente pode também cair no outro lado reativo ao apego que é a aversão.
Ao invés da identificação e do apego, vivemos uma raiva e aversão, e escolhemos o não querer entrar em contato, o não querer enfrentar o que está acontecendo, e assim nos afastamos.
A ignorância vem desta falta de contato consigo, com as verdades e propósitos essenciais.
Quero propor a você uma pausa e refletir um pouco:
Respire profundamente e permita-se o ‘sentir’ e responda honestamente:
- Para que você precisa de tanto controle?
- O que realmente importa na sua vida para que realmente mantenha a permanência?
- Qual o sentido de sustentar estas ilusões? O que você ganha com isso?
- Quais são as suas maiores crenças limitantes?
- Quais são os seus medos? Eles são reais?
“O maior naufrágio é do navio que não sai da âncora no porto…”
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